A INFLUÊNCIA DA SAUDAÇÃO AO PARCEIRO NA FORMAÇÃO DO JUDOCA

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OBS.: Este artigo não é de minha autoria. Desconheço o autor. 

Reverencie seu parceiro de treino porque este representa as trocas sociais que necessita para seu crescimento ao mesmo tempo que reconhece o desprendimento deste em ceder-lhe seu corpo para que possa treinar. A importância desse entendimento desde cedo é passada a todos os frequentadores do local de treinamento, criando uma relação de grande fraternidade entre atletas. O objetivo comum é o desenvolvimento de todos os princípios preconizados pela filosofia do Judô para fortalecer a sociedade judoísta como um todo para posteriormente os atletas se beneficiarem individualmente desse fortalecimento. Quando pensamos no bem do todo, automaticamente pensamos no bem do indivíduo como parte integrante desse todo.

O Judô nos dá um exemplo de como essa conquista pode se realizar. Embora seja um esporte individual, ele é treinado coletivamente. Portanto, o parceiro de treinamento ou de combate não é visto como rival e sim como alguém que tem importância no nosso crescimento individual. Um companheiro de jornada. É ele que fornecerá, objetivamente, a resposta que balizará o esforço que precisamos despender para atingir a nossa meta. Se a meta é ser campeão brasileiro, não se pode esperar que seja campeão olímpico. Mas se a meta for ser campeão olímpico pode esperar ser campeão brasileiro.

Antes o homem precisa aprender a ganhar de si próprio. Ganhar de sua acomodação, da falta de objetivos, de sua limitações. Quando vencemos a nós próprios a vitória tem sabor de liberdade, de realização. Assim, o objetivo se revela a nossa frente como um acontecimento natural. Por isso a sensação de vitória é tão valorizada. O vencedor é sempre muito cumprimentado, até pelo adversário, porque todos reconhecem o caminho que este teve de percorrer para chegar ao título. E esse caminho que é o símbolo da vitória. O título sempre é uma consequência. Todos os atletas, de todos os esportes reconhecem isso. É essa lição do Judô (esportes em geral) que deve ser absorvida por todos. Nosso lugar na sociedade sempre esteve a nossa espera. Aguardava apenas que estivéssemos prontos. Como você vai saber que está pronto? É só olhar em volta. O universo a todo instante está lhe mandando sinais.

 A reverencia ao Dojô é porque reconhece a sacralidade desse espaço onde  uma analogia com o mundo vive suas experiências e aprende a se conduzir sempre com elegância.

No texto “O Judô do espírito” o místico advogado, piloto ativo na Resistência Francesa contra os nazistas, Robert Godet, numa analogia  com as dificuldades escreveu: 

“O tatame está aí para aparar nossa queda, mas a maneira de cair faz com que a pessoa se machuque ou não. Por isso não vale a pena acusar o mudo de dureza; é preferível antes aprender a medir as quedas na matéria antes de estar seguro do equilíbrio, porque sem isso você poderá não conseguir de levantar”.

Realmente, o Dojô é um micromundo. Ali tudo acontece. As situações vividas no dia a dia se assemelham às vividas dentro do Dojô. Os relacionamentos são sobejamente aprimorados porque a todo instante o judoca se curva diante do outro em sinal de respeito, a deferência e a empatia serão exercitas, sistematicamente, para que se tornem um hábito.

Outro grande ensinamento do Judô está relacionado às quedas. Sendo assim, é imprescindível que o judoca aprenda a cair para não se machucar. Levantar-se após uma queda é uma coisa corriqueira na vida de um judoca que ele nem pensa em queda; o importante é ficar de pé.

Essa lição transportada para fora dos tatames é de grande valia para o enfrentamento das adversidades da vida como o passatempo de um ente querido, a falência nos negócios ou a perda de um amor. Todas essas situações, de uma ou de outra forma, nos levam a ter “quedas” mas é importante levantar.

A preservação dos rituais incorporados ao Judô – saudação e tratamento – devem ser mantidas sob pena de vermos descaracterizadas uma das artes mais importantes para a educação dos jovens. Todo contexto no qual o Judô se desenvolveu foi devidamente estudado para que a linguagem fosse absorvida pela juventude. E esse objetivo foi amplamente alcançado desde o início.

O Judô é praticado em todos os continentes graças ao seu conteúdo filosófico. Então o bom senso nos mostra que não devemos mexer naquilo que constitui a essência mais profunda.

Sendo assim, o objetivo último de todos aqueles que o praticam é de mantê-lo conforme as raízes para que outras gerações possam se beneficiar de seus ensinamentos tal qual a nossa foi beneficiada. Acontece que muitos países não receberam, por algum motivo, uma imigração japonesa como o nosso e isso fez com que se desenvolvessem o seu Judô através de intercâmbios mantidos com seu vizinho mais próximo que também carece de um maior conhecimento dessas práticas. Fazem a saudação com as pernas abertas; não curvam o tronco, fazem apenas um sinal com a cabeça. Isso além de prestar um desserviço ao Judô – por descaracterizá-lo como esporte educador – deixa escapar uma grande oportunidade de mostrar à crianças e aos jovens, que os tem como referência, que essa elegância, devidamente absorvida, desdobrar-se-á em atitudes refinadas no tratamento com as demais pessoas.

Logicamente, não é o ritual que vai determinar o refinamento das atitudes, e sim o espírito que antecede o ritual. Esse entendimento virá mais tarde. O primeiro passo é realizá-lo elegantemente. A saudação. além do significado espiritual como foi descrito, atua como tranquilizadora de possíveis conflitos que possam surgir durante uma luta de Judô. Sendo bem feita, impede que algum ato de selvageria seja praticado após a luta. Os dois contendores são obrigados a fazer a saudação no início e no fim do combate, sob pen de]serem desclassificados da competição. A saudação, por ser uma constante na vida dos judocas, prepara o espírito desses para absorver os ensinamentos contidos na doutrina do Judô, e tem por objetivo o protagonismo dos princípios sociais, esportivos, culturais e espirituais. 

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